quarta-feira, 24 de junho de 2009

A vida sempre continua

Conforme os anos vão passando, vamos conquistando coisas novas, coisas materiais, e coisas que o dinheiro não pode comprar. E ao longo dos anos algumas coisas vão perdendo o seu valor, e tornam-se inuteis, descartaveis, então nos desfazemos delas e vamos atrás de coisas novas.
Os anos vão passando, e a nossa vida, que é sempre muito corrida, fica neste vai e vem de coisas novas e velhas. A cada coisa nova conquistada, uma festa, uma alegria, a cada coisa velha descartada, uma indiferença, uma tristeza.
Os anos passam e passam, e a gente, nesta correria do dia-a-dia, não para pra olhar para trás, pra ver tudo o que já foi novo e virou velho, tudo que um dia fazia toda a diferença e virou indiferente. A gente se nega a pensar e a lembrar de tudo o que deixou pra trás, pois o que importa é o que ta lá na frente nos esperando, é só o futuro que importa, o passado é passado, e como todo o passado, já passou. E é claro que você não vai perder um minuto do seu dia pra lembrar do passado, das perdas, e você pensa "a vida sempre continua", e ela continua mesmo.
E os anos que nunca pararam de passar, assim como você nunca parou pra pensar, passaram, passaram muito, e só agora que você se olhou no espelho que você notou, notou as rugas e as marcas de expressão, notou a pele a mais caida sobre os olhos, e as olheiras profundas das noites sem dormir. Parada, olhando fixamente para o espelho você não pensava em nada, apenas via seu rosto velho, o qual você já nem conhecia.
Após alguns minutos de choque, ainda a se olhar no espelho, se pos a pensar - Quem sou eu? - então voltou-se a lembrar da vida, e de cada momento marcante, de cada conquista e cada perda. Lembrou-se do primeiro beijo, o primeiro namorado, a primeira transa, o primeiro fora, o primeiro enterro, o braço quebrado e a forma como a mãe a cuidava, lembrou-se da familia reunida no Natal e no Ano Novo, lembrou-se de quando foi pedida em casamento, e da forma de como o casamento acabou, lembrou-se de quando descobriu que estava grávida, lembrou-se do parto e dos primeiros passos e as primeiras palavras...lembrou o acidente de carro, lembrou de tudo e mais um pouco, então voltou a ver seu reflexo no espelho e pensou - Porque deixei isso esquecido por tanto tempo? - então percebeu, que de todas as coisas maravilhosas que passaram por suas lembranças, nada era material, tudo era baseado em sentimento, nada daquilo o dinheiro poderia comprar de volta pra ela, ela havia perdido tudo, tudo o que de melhor ela conquistou na vida foi posto fora, foi descartado porque em algum momento ela achou que não havia mais valor. Mas agora, sozinha naquele pequeno banheiro de uma grande mansão, percebeu que todo o seu trabalho, todo o seu esforço tentando adiquirir o máximo possivel de béns materiais foi inútil, porque mesmo com toda a fortuna que possuia, não era capaz de comprar a vida de seu filho de volta, nem os carinhos da mãe, não poderia mais ver a familia reunida em uma grande ceia. Sua fortuna era inútil.
Em um cantinho daquele pequeno banheiro, ela ficou sentada durante horas, chorando pelas coisas que não poderia mais ter, chorando pelas coisas que não podia comprar. Mas como a vida sempre continua, lembrou-se da carta que recebeu do ex-marido após o divorcio, fazendo força levantou-se do chão, foi até uma das salas da mansão que a muito tempo não entrava, abriu um armário velho, e de dentro dele tirou uma caixa empueirada, abriu-a e tirou um envelope, nele continha o endereço e o telefone de seu ex-marido, eufórica pegou o telefone e ligou com esperanças de uma nova vida, mas após duas chamadas, um homem atendeu, não reconheceu sua voz então perguntou pelo nome de seu ex, e lhe foi avisado que ele havia falecido há duas semanas, aos prantos, sem acreditar no que ouvia, calou-se e pensou ser castigo, com o telefone ainda no ouvido escutou a voz do outro lado tentar lhe consolar, mas não conseguia prestar atenção no que ele lhe dizia, ela apenas repetia "minha vida acabou", o homem do outro lado da linha, já sem mais saber o que dizer, pediu seu endereço para que pudessem conversar com calma, ela entre soluços e lagrimas citou seu endereço sem nem pensar no que estava fazendo, ainda aos prantos se despediu da voz do outro lado, e se deitou em um pequeno sofá no centro da sala, e ali ficou como quem espera a morte.
Quinze minutos depois, toca a campainha, a empregada atende, e entra um senhor desesperado perguntado pela "mulher do telefone", a empregada confusa pede para que aguarde e diz que vai chamar a patroa. Procura ela por toda a casa e finalmente a acha, deitada no sofá, olhos inchados de tanto chorar, e dando leves soluços. Avisa que a um homem esperando-a na sala de espera, entre soluços pergunta assustada "Que homem?", a empregada tão confusa e assustada quanto, diz com receio "ele esta procurando pela mulher do telefone", ao ouvir isso, sem endenter direito o por quê, levantou de um salto e desceu as escadas correndo até a sala de espera. E lá estava ele parado, de costas, assim que ouviu os passos, se pós a olhar para trás. Apesar do olhar preocupado, era a pessoa mais bela que já havia visto, mas sem muito pensar perguntou " O que esta fazendo aqui?", ele continuo a olha-la fixamente e após alguns instantes, como se acordase de um pequeno transe, respondeu " Não sei, algo me disse que eu tinha que vir aqui"...
E como a vida sempre continua, acho que você já deve imaginar o final dessa história.
As vezes pensamos que perdemos tudo, que o mundo não faz mais sentido, e que a nossa vida acabou, mas as vezes um grande final indica um grande começo, só depende de você.
É como dizem, "a vida sempre continua"...

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