terça-feira, 28 de julho de 2009

Em busca da felicidade

Ela era triste, não sorria, era séria, havia algo no seu passado que a atormentava, mas ninguém sábia do que se tratava, pois sobre isso ela não falava.
Eram seis da manha, levantou da cama e foi direto pro banheiro, escovou os dentes e ficou se olhando no espelho, séria, ela era sempre séria. Cinco minutos se passaram, e ela continuava ali, imóvel em frente ao espelho, uma lágrima escorreu, então olhando com ódio para sua imagem no espelho disse: - Hoje, você vai encontrar a felicidade!
Vestiu seu abrigo vermelho e foi para a praça em frente ao seu condominio correr. Ela não praticava esportes, mas uma vez ela tinha ouvido no Globo Reporter que as pessoas que praticam esporte são mais felizes.
Ela não aguentava mais correr, mas ela ainda não se sentia feliz, então continuou. Estava ofegante, começou a ficar vermelha, já não conseguia levantar seus pés por completo do chão, acabou tropeçando em si propria e caindo no canteiro. Ficou ali deitada no chão por cerca de cinco minutos, recuperando o folego e olhando para a luz do sol por entre as arvores. Levantou, limpou a roupa com as mãos, e foi até a padaria, comprou tudo que havia de doces e foi pra casa.
Sentou na mesa, pegou uma rosquinha e ficou olhando pra ela, com o pensamento distante, mordeu, e tomou seu café da manha com indiferença.
Colocou sua roupa de grife, pegou sua bolsa e foi para o shopping, comprou as roupas mais lindas, e os sapatos mais caros, comprou as jóias mais desejadas e as bolsas mais visadas. Comprou tudo o que uma mulher gostaria de ter, e nem assim se sentia feliz. Sentou-se em uma mesa da praça de alimentação, e ficou olhando o sorriso e o brilho nos olhos de um garotinho que comia um Mc Lanche com brinquedinho, então pediu um também. Quando o lanche chegou, abriu-o com esperanças, mas sua boca não sorriu, nem tão pouco seus olhos brilharam, então comeu com indiferença.
Estava passando por um Park de diversões, viu tantas pessoas felizes que resolveu estacionar. Comprou uma entrada, comeu algodão doce e maça do amor, entre uma brincadeira e outra ganhou ursinhos de pelúcia, chapéus decorados e inúmeros brinquedos, mas não se sentiu feliz, então viu a montanha russa, e a forma como todos a olhavam, colocou tudo no carro e foi andar na montanha russa. Sentiu um frio na barriga, estava tudo passando tão rápido, começou a se sentir tonta, nauseas, estava tudo embaçado, vomitou sobre sua roupa de grife.
Chegou em casa, tomou banho e saiu sem rumo. Duas quadras depois avistou um outdoor com a propaganda do filme " A Proposta". Comprou pipoca, refrigerante, e sentou-se na ultima fileira. Não conseguia entender, por quê parecia tão engraçado para todos ali presentes, mas para ela, era tão indiferente. Saiu na metade do filme, sentou no carro, ligou o rádio e encostou a cabeça no volante.
Estacionou ao lado da Usina do Gasômetro, comprou água de coco e uma passagem de barco no Guaíba, comprou um CD e um colar dos índios que ali comerciavam. Subiu no barco, balançou, sentiu medo, segurou forte no banco. Não era tão emocionante quanto diziam, sentou-se para ver o pôr-do-sol.
No carro, indo pra casa, colocou o CD que havia comprado dos índios, sua cabeça latejou, desligou no mesmo instante.
Colocou uma calça colada, um blusa justa, arrumou o cabelo e se maquiou, pegou a bolsa, e saiu. Sentou no banco em frente ao balcão e pediu um café, escolheu uma musica no jukebox, e bebeu seu café olhando o movimento na Cafeteria.
Passou em uma banca de revista, comprou duas revistas e um Halls, entrou no Club. Bebeu seus drinks preferidos e dançou até se acabar, beijou alguns rapazes e trocou idéias, sentou-se em uma mesa na sacada, pediu mais um drink com chapeuzinho rosa, encostou a cabeça na mesa e ficou olhando pro nada.
Saiu do Club cambaleando, pegou a bolsa no carro e saiu andando, estava a poucas quadras de casa. Não conseguia parar de pensar na tal felicidade. Estava na esquina de casa, quando trancou o salto em uma pedrinha e caiu na calçada. Com dificuldade sentou-se e escorou a cabeça na parede, estava exausta. Ficou olhando fixamente para uma vitrine espelhada do outro lado da rua, começou a pensar na felicidade, onde será que ela se escondia, olhou para o chão, ela havia procurado em todos os lugares, parece que todos achavam, menos ela. Um raio de luz tocou seu rosto, fez uma careta enquanto tentava avista-lo, viu seu rosto fazendo careta de relance refletido na vitrine espelhada, olhou pra vitrine e tentou refazer a careta, mas não havia ficado igual, então tentou de novo, mas parecia que nunca era a mesma coisa, então começou a fazer várias caretas, e quando se deu conta, estava rindo de si mesma. Com um leve sorriso no rosto, parou e refletiu: " Você estava aqui o tempo todo, no lugar mais óbvio, mas que eu jámais procuraria; dentro de mim".
Ficou sentada por mais alguns minutos, rindo de si mesma, depois levantou e foi pra casa, agora que sabia onde a felicidade estava, não faltava mais nada, se sentia completa.

Daniela S. Silveira

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